sexta-feira

Centro de Referência em Osteogênese Imperfeita do IFF comemora dez anos

Amanhã, 28/4, o Centro de Referência em Osteogênese Imperfeita do Instituto Fernandes Figueira (CROIFF) completa 10 anos de existência. Para celebrar a data, o Instituto promoverá, em parceria com a Associação Brasileira de Osteogênese Imperfeita (ABOI), uma manhã dedicada ao assunto. O CROIFF é responsável pela coordenação das informações clínicas geradas pelos centros de referência em Osteogênese Imperfeita de todo o país. Atualmente, 244 crianças e adolescentes são atendidos pela equipe do Centro do IFF. O tratamento com o medicamento pamidronato dissódico vem representando uma significativa melhora na qualidade de vida desses usuários.

Confirmado para a palestra de abertura do evento, o coordenador do departamento de genética do IFF, Juan Llerena, ressalta a importância da iniciativa. “Nos organizamos como Instituto para atender demandas de gerenciamento de patologias complexas em hospitais públicos que não eram atendidas até então”, diz.

O evento acontece das 8h às 12h, no anfiteatro A do Centro de Estudos Olinto de Oliveira. Endereço: Avenida Rui Barbosa, 716, Flamengo.

Osteogênese Imperfeita

Osteogênese Imperfeita é uma doença genética e, portanto, hereditária, que acarreta uma grande probabilidade de fraturas ósseas. As várias formas de Osteogênese Imperfeita apresentam diferenças em relação à gravidade, porém, de forma ampla, geram grande incapacidade física e motora nos pacientes.

Desde dezembro de 2001, o IFF tornou-se um dos centros de referência nacional (Crois) para o tratamento medicamentoso da Osteogênese Imperfeita financiados pelo Ministério da Saúde.

Para mais informações, acesse www.croiff.fiocruz.br.

domingo

Ossos de vidro: bebê de Birigui


Imagine, por um momento, não poder mexer o corpo com risco de que seus ossos se quebrem, privando assim das atividades corriqueiras e de abraços e carinhos. Agora, idealize uma criança de 9 meses de idade tendo que suportar todas essas dificuldades. Essa criança existe, tem apenas nove meses de vida. A pequena Heloísa Scarpin Nogara, que mora na zona rural de Birigui, hoje se recupera do seu primeiro ciclo de tratamento, realizado semana passada na Santa Casa de São Paulo.

Helô, como é chamada por seus familiares, nasceu com a osteogênese imperfeita, mais conhecida como ossos de cristal ou O.I.. Essa patologia tem origem genética e sua principal característica é a fragilidade dos ossos (falta de colágeno), que se quebram facilmente. Os portadores da O.I. geralmente possuem problemas nos dentes, ouvidos e baixa estatura. Doença rara, a estimativa é de um caso para cada dez mil nascimentos no Brasil, conforme levantamento da Aboi (Associação Brasileira de Osteogênese Imperfeita).

A rotina da família de Heloísa é municiada de cuidados extremos com a menina. Sua mãe, a dona de casa Maria Clélia Scarpin Nogara, 33 anos, coloca uma redinha em cima da banheira para que ela possa dar banho na bebê e, mesmo assim, sua filha chora por causa das dores. As roupas que Helô usa possuem botões na parte da frente, para não correr o risco de forçar os braços da menina no momento de colocá-las. Ela passa a maior parte do tempo deitada em uma almofadinha, que amortece o corpo e diminui o risco de fraturas. Até para dormir, junto com a mãe, ela depende da almofada.

E, mesmo assim, Helô sofre fraturas decorrentes nos ossos. Já foram diversas rupturas nos braços, pernas, mãos, pés e clavícula. Quando a reportagem visitou a menina, há um pouco mais de uma semana, seu bracinho esquerdo se recuperava de uma fratura que ocorreu depois que ela tentou colocar a mão na boca. "A gente sabe quando o ossinho quebra porque o local fica inchado e avermelhado. Ela também chora mais", disse Clélia, que descobriu a doença da filha caçula na gravidez.

PÉS TORTOS
"No início, meu médico achava que ela ia nascer com os pés tortos, para dentro. Mas, com o tempo, os exames de ultrassom mostraram fraturas nos braços, pernas, mãos e costelas. Quando estava com sete meses de gestação soube da doença e que ela poderia morrer na cesárea", contou.

Após repouso e acompanhamento intenso dos médicos com Clélia, a criança nasceu com 37 semanas de gestação, por cesárea, após rompimento da bolsa. "A médica teve que fazer um corte muito grande para tirar a Helô porque tinha risco de ela sofrer mais fraturas", frisou. Após o nascimento, a bebê foi levada para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital em Araçatuba para receber oxigênio. "A doença foi confirmada ainda no hospital e a partir de então meus familiares foram em busca de mais informações para tratamento."

terça-feira

Kay Tate, de 25 anos, já quebrou os ossos 205 vezes

Kay Tate, de Newcastle, Inglaterra, pode quebrar uma costela ao espirrar ou com um abraço mais forte. A inglesa de 25 anos sofre de osteogênese imperfeita, condição hereditária rara também conhecida como doença dos ossos quebradiços.

Por causa da doença, a inglesa tem quase a mesma altura do filho, de 6 anos. Kay mede 1,13 metro, enquanto o filho Lewis tem pouco menos de 1 metro de altura.

- Já que ele tem quase o meu tamanho, acha que já é crescido – diverte-se a mãe.

Os ossos de Kay são tão frágeis, que ela já os quebrou 205 vezes.

- Uma vez, uma amiga me deu um abraço mais apertado, e quebrou minha costela. Ela ficou aterrorizada, mas eu achei engraçado. Eu tenho que aceitar que é inevitável que meus ossos quebrem – revela Kay, que quebrou um osso há seis meses, ao espirrar.

Apesar de encarar a doença de forma positiva, a jovem tem dores fortes e constantes. E só sente alívio ao tomar um banho bem quente.

- Eu sempre senti isso. Nunca foi diferente. Preciso lidar com a doença. Não há outra escolha – diz ela.

Mas se sente frustrada por ter que pedir ajuda as amigos toda vez que vai ao supermercado, porque não pode carregar sacolas muito pesadas. Kay também não consegue encontrar roupas com facilidade, já que veste o mesmo que crianças de 6 anos. E não é raro que seja confundida com uma criança.

A inglesa quebrou o primeiro osso no dia em que nasceu. Ela fraturou o fêmur durante o trabalho de parto. E outras 30 vezes depois disso. Tanto que precisou colocar uma placa de platina na perna, no ano passado. A mãe e a irmã de Kay têm formas mais amenas da doença, então os médicos não tiveram dificuldade em identificar o diagnóstico.

Kay andou em cadeira de rodas até os 14 anos, porque toda vez que tentava dar um passo, quebrava um osso. Mas conseguiu andar sozinha após sessões diárias de terapia. E decidiu ter um filho quando tinha 19 anos.

- Todo mundo me disse para eu não ter um filho, mas sabia que poderia lidar com um bebê. Quando engravidei, minha família ficou tão assustada que pediu para eu considerar a possibilidade de um aborto – contou ela.

Com pouco mais de cinco meses de gestação, Kay quebrou a perna e ficou presa a uma cadeira de rodas. E deu à luz cinco semanas antes do previsto. Prematuro, Lewis precisou ficar na unidade de terapia intensiva por duas semanas, antes de ir para casa. Após três meses, os médicos confirmaram que o menino não tinha a doença.

Hoje, ela diz que só teria outro filho se pudesse assegurar que a criança não nasceria com a doença hereditária. Com 5 anos, Lewis já sabia ligar para o serviço de emergência sozinho e entrar em contato com a avó, caso fosse necessário. E sabe que precisa ter cuidado ao se aproximar da mãe.

- Ele não entende muito a minha doença, nem o porquê não posso jogar futebol com ele. Mas sabe que tem que ser cuidadoso – explicou Kay.

Apesar das dificuldades para cuidar da própria vida, Kay ainda arranjou tempo para ser embaixadora da Sociedade dos Ossos Frágeis.

- Eu acho que sempre tem alguém pior que você.

Fonte: Extra Online

quinta-feira

Portadora de "Ossos de vidro" afirma ter sido discriminada em unidade de saúde.


Paulo Rogério
Rádio CBN Vitória (93,5 FM | 1.250 AM)

foto: Paulo Rogério
Posto de saúde de Andorinhas, em Vitória, onde funcionária diz ter sofrido discriminação - Foto: Paulo Rogério
Posto de saúde de Andorinhas, em Vitória, onde funcionária diz ter sofrido discriminação

A fonoaudióloga Débora Eler Rossow, 33 anos, portadora de deficiência física, que trabalha há dez anos na unidade de saúde de Andorinhas, em Vitória, afirma ter sido alvo de discriminação, no local de trabalho, por parte de uma equipe de publicidade da Prefeitura de Vitória. A servidora foi comunicada pela equipe de gravação que não poderia aparecer no vídeo que mostraria o atendimento nas unidades de saúde do município.

Havia cerca de 40 funcionários no posto de saúde, além de alguns pacientes. Todos ficaram revoltados, de acordo com a servidora. Os funcionários resolveram suspender os trabalhos, enquanto a equipe de gravação permanecesse na unidade de saúde. As filmagens seriam realizadas na tarde desta terça-feira (03), mas foram suspensas.

Débora Rossow sofre da Síndrome de Osteogênese Imperfeita, popularmente conhecida como 'Doença dos Ossos de Vidro', que dificulta o desenvolvimento corporal dos portadores. Débora possui uma baixa estatura. A fonoaudióloga afirma que tomará medidas judiciais contra a Prefeitura de Vitória.

"É inacreditável que uma coisa dessas aconteça. Eu não consigo acreditar até agora. Acontecer isso justamente em uma administração que fala em 'Vitória para Todos'. Minha ficha não caiu ainda", declarou.

Uma das pessoas que presenciou toda a movimentação e que foi solidária à fonoaudióloga é a comerciante Luciana Lima, 41. "Ela é uma pessoa maravilhosa e nunca destratou ninguém. Uma coisa dessas é muito revoltante", afirmou.

O outro lado

A Prefeitura de Vitória informou, por meio de nota, que adotou as devidas providências para apurar os fatos e identificar se houve, por parte da empresa prestadora de serviço, qualquer abordagem ou comportamento divergente das políticas públicas de igualdade praticadas por esta Administração.

Caso seja comprovado que houve ação discriminatória, a Secretaria de Comunicação, juntamente com as secretarias municipais de Saúde e Cidadania e Direitos Humanos, adotará as medidas cabíveis.

Por fim, a prefeitura afirma que pauta sua atuação e seus instrumentos de comunicação pelo comportamento ético, respeito ao próximo e tratamento igualitário, considerando em seus produtos institucionais a plena diversidade de perfis dos moradores de Vitória.


OSSOS DE VIDRO, VONTADE DE FERRO


Tem gente que já levanta da cama reclamando de tudo e de todos. Não era o caso de Michel Petrucciani. Ele, certamente, não ia perder seu precioso tempo se lamentando da vida, do custo do aluguel, da derrota da seleção francesa, do frio ou do calor. A vida urgia e o pequeno Michel tinha pressa. Impunha-se degustar a vida em um único gole, sorvendo-a como se cada dia fosse o último. Afinal de contas, quando se nasce com uma doença degenerativa como a “osteogenesis imperfecta”, cada dia é, mais que o mero transcurso de 24 horas, uma vitória do espírito sobre a adversidade.

Petrucciani veio ao mundo no dia 28 de dezembro de 1962, na cidade de Montpellier, na França. A família, de origem italiana, era absolutamente devotada à música. O pai, Antoine, era guitarrista de jazz. Dois dos seus irmãos, Louis e Philippe, também eram músicos: o primeiro era baixista e o segundo, guitarrista como o pai. A doença que acometeu Michel, de origem genética, trouxe-lhe inúmeras limitações. Seus ossos eram extremamente frágeis, o que causava dificuldade para caminhar. Para realizar as tarefas mais corriqueiras, o pequeno precisava da ajuda de alguém.

Mas, em compensação, a natureza dotou-lhe de um talento sobrenatural para a música. Desde a mais tenra idade, o garoto foi exposto ao melhor do jazz e seu primeiro herói foi Duke Ellington. Certa vez, quando tinha cinco anos, assistiu a uma apresentação do maestro na televisão e decidiu: queria aprender a tocar piano. O pai, então, comprou-lhe um piano de brinquedo e o garoto, ao ver o pequeno instrumento, não escondeu seu desapontamento.

A fim de demonstrar toda a sua indignação, ele apanhou um martelo, destruiu o brinquedo a marretadas e deixou bem clara a sua vontade: “quero um piano de verdade”. Antoine trabalhava em uma base militar e ali havia um velho piano de armário, bastante danificado. Ele conseguiu autorização do comandante da base para ficar com o instrumento e o levou para casa. Conseguiu restaurá-lo e fez algumas adaptações para que o filho pudesse tocar.

O garoto, com todas as limitações impostas pela doença, não demorou a dominar o instrumento e a desenvolver uma técnica própria que o permitia alcançar grandes extensões do teclado. Ele recorda as dificuldades iniciais do aprendizado: “Quando eu era criança, tinha a impressão de que as teclas pareciam dentes. Era como se elas estivessem rindo de mim”. Todo o cuidado era pouco, pois dada a fragilidade de seus ossos, mesmo uma pequena queda da bancada poderia lhe ser fatal.

Com uma vontade férrea e muita disciplina, Michel começou a enveredar pela música erudita, tendo estudado o repertório clássico por cerca de oito anos. O garoto tomou um choque quando assistiu, ela primeira vez, a uma apresentação do virtuose Arthur Rubenstein: “Seus dedos se moviam com tamanha velocidade que parecia que eu estava assistindo a um desenho do Pernalonga. Percebi logo que jamais poderia ser tão bom quanto ele, e esse fato foi decisivo para que eu me dedicasse exclusivamente ao jazz”.

Embora fosse um aluno disciplinado e treinasse por até sete horas por dia, Michel não demorou a perceber que não tinha tanta afinidade assim com o universo da música erudita. São dele as seguintes observações: “Estudei piano clássico por oito anos. Esse aprendizado ortodoxo lhe dá disciplina e ajuda a desenvolver a sua técnica. Você aprende a levar a sério instrumento. Mas eu cansei daquela rotina de concursos e competições. O ambiente da música clássica era burguês demais pro meu gosto”.

O amor pelo jazz, obviamente, jamais refluíra e Michel costumava tocar clássicos do estilo em casa, acompanhado pelo pai e pelos irmãos. Ellington era seu compositor favorito mas, ao piano, suas influências eram os já consagrados Bill Evans, McCoy Tyner e Herbie Hancock, além de uma estrela em ascensão que, em meados da década de 60, havia causado furor na banda do saxofonista Charlie Lloyd e agora, nos anos 70, alçava vôos cada vez mais ousados: Keith Jarrett.

O primeiro concerto de Petrucciani foi realizado em 1975, quando ele tinha treze anos. Sua primeira aparição pública em um festival de jazz aconteceu em 1978, no Cliousclat Jazz Festival. Sua figura singular, que precisava ser carregada até o piano, causou enorme curiosidade na assistência. Mas bastaram os primeiros acordes para que o público esquecesse dos problemas físicos do pianista e se concentrasse na música que emanava daquele corpo diminuto, que media pouco menos de um metro e vinte centímetros de altura e pesava apenas trinta quilos.

Uma verdadeira lenda do jazz, o trompetista Clark Terry, estava presente naquela edição do festival. Por coincidência, ele estava sem pianista em sua banda e andava à procura de alguém para acompanhá-lo naquela noite. Ao ser apresentado pelos produtores do festival ao pequeno Michel, Terry não botou muita fé nas habilidades do rapaz. Pediu, então, para que Petrucciani tocasse um blues e pouco menos de dois minutos foram suficientes para que o veterano trompetista tivesse certeza de que estava diante de um fenômeno.

O início da carreira profissional, como tudo na vida de Michel, também foi bastante penoso. Além dos baixos cachês e da desconfiança dos donos de clubes e produtores de festivais, em relação ao seu talento como instrumentista, o jovem viveu aventuras dignas de um personagem de histórias de espionagem. Já liderando seu próprio trio, ele viajava pelo interior da França, tocando em qualquer lugar que aparecia. Nessa época, era comum que o seu produtor entrasse nos hotéis com o pianista escondido em uma mala, a fim de economizar nas despesas com hospedagem.

A partir de 1981, após uma consagradora apresentação no Festival de Jazz de Paris daquele ano, as coisas mudaram radicalmente e Petrucciani passou a ser um dos mais requisitados jazzistas do cenário europeu. Ele nem completara 20 anos e já podia se orgulhar de ter tocado com figuras do calibre de Aldo Romano, Lee Konitz, Chuck Israels e Kenny Clarke, entre outros. Em 1982, durante sua primeira excursão aos Estados Unidos, ele resolveu procurar Charles Lloyd, que havia se afastado do mundo do jazz e curtia uma aposentadoria precoce. Através de amigos comuns, Michel chegou até a mansão do saxofonista, em Santa Barbara, na Califórnia.

Vivendo dos direitos autorais dos mais de cinco milhões de discos vendidos nos anos 60 e 70, Lloyd certo dia recebeu a inesperada visita daquele pequenino francês que se anunciava pianista de jazz. Intrigado, o saxofonista convidou Petrucciani para entrar, ofereceu-lhe a bancada do Steinway e convidou-o a tocar um pouco. Os dois passaram os dois dias seguintes tocando e, ao final da maratona, Michel havia convencido o saxofonista a voltar aos palcos. “Michel mudou a minha vida. Nunca imaginei que eu fosse voltar a tocar em público”, confessou Lloyd em uma entrevista.

Ocupando um lugar que quinze anos antes havia sido do ídolo Keith Jarret, Petrucciani se tornou, rapidamente, um astro em ascensão. O novo quarteto de Lloyd era complementado pelo contrabaixista Palle Danielsson e pelo baterista Son Ship. Com o espírito renovado pela força criativa de Michel, o saxofonista voltou à rotina de concertos e gravações, apresentando-se nos Estados Unidos, Europa e Japão, tendo sempre uma ótima receptividade por parte de público e crítica.

Ao mesmo tempo, o pianista não descuidava da própria carreira solo e embora já tivesse gravado alguns discos por selos europeus, o sucesso de vendagens viria mesmo após assinar com a Blue Note. Ele foi o primeiro músico de jazz francês a ser contratado pela lendária gravadora de Alfred Lion e seus discos lançados ali, como “Live at the Village Vanguard” (1984), “Michel Plays Petrucciani” (1989), “Live” (1991) e “Promenade With The Duke” (1993), se alinham entre os melhores de sua extensa discografia.

Em fevereiro de 1985, o quarteto de Charles Lloyd, com Petrucciani ao piano, fez um memorável concerto no Town Hall, em Nova Iorque. O resultado pode ser conferido no DVD “One Night with Blue Note”, dirigido por John Charles Jopson. Posteriormente, o diretor confessaria que durante as filmagens foi às lágrimas em diversos momentos do show. Outro momento inesquecível na carreira do pianista foi a sua apresentação no Festival de Montreux de 1986, ao lado dos portentos Wayne Shorter e Jim Hall. A apresentação foi gravada e lançada em CD pela Blue Note, no magistral “Power Of Three”.

Na vida amorosa, Michel se revelava um verdadeiro sedutor. Casou-se com Erlinda Montano, para quem compôs “To Erlinda”, com Marie Laure Roperch, com a pianista Gilda Buttà e, finalmente, com Isabelle Mailé. Teve um filho, Alexandre, com Roperche, que também é portador da “osteogenesis imperfecta”. Além disso, era um farrista incorrigível e, além das mulheres, também era chegado ao álcool e às drogas.

A cantora Joyce, que foi sua amiga e conviveu de perto com ele, relembra algumas histórias engraçadas sobre ele: “Fomos amigos, privamos de uma razoável proximidade. (...) A cada vez que passávamos por NY a trabalho e ele estava lá, ou ele ia nos ver ou nós a ele. Em 1992 fizemos uma temporada numa casa novaiorquina chamada Ballroom, hoje extinta, e ele apareceu por lá quase todas as noites. E também o vimos outras tantas vezes tocando no Vanguard, com nosso também amigo Joe Lovano e com Charles Lloyd. (...) Passamos uma divertida noite no apartamento dele na 12th Street. Nessa noite ele propôs ao Tutty: ‘você é alto e forte, mas é gago; eu sou deficiente e só tenho 1,20m, mas falo pra caramba. A gente podia fazer uma dupla’. Michel era genial, mesmo com sua língua de trapo e sua compulsão por mulheres, drogas e bombons. Chegamos a planejar um disco ou uma parceria juntos, que nunca se materializou”.

Se a vida amorosa era movimentada, mais movimentada ainda era a sua agenda de shows. Petrucciani atravessou a década de 80 como uma das atrações mais disputadas do circuito de festivais de jazz ao redor do planeta. Para que se tenha uma idéia do seu prestígio, em 1989 ele recebeu a vultosa importância de vinte e seis mil dólares para participar do álbum “Manhattan Project” (Blue Note) ao lado do baterista Lenny White, do saxofonista Wayne Shorter, do baixista Stanley Clarke e do tecladista Gil Goldstein.

Aquela década também foi pródiga em homenagens ao pianista, que eram de todos os tipos e provinham de todos os lugares. O jornal Los Angeles Times escolheu o pianista como “Jazzista do Ano”, em 1983. Pouco tempo depois, também seria escolhido como “Melhor Músico de Jazz Europeu”, pelo Ministério da Cultura da Itália e, na terra natal, recebeu o importante “Prêmio Django Reinhardt”. Já era, então, um artista mais do que consagrado.

Petrucciani tocou com, virtualmente, todos os grandes nomes do jazz em atividade nos anos 80 e 90, na maior parte das vezes liderando as sessões. Em seus discos ou concertos, dividiu os estúdios e palcos com estrelas do gabarito de Jack DeJohnette, John Abercrombie, Dave Holland, Tony Williams, Eddie Gomez, Joe Lovano, Stanley Clarke, Romero Lubambo, Niels-Henning Ørsted Pedersen, David Sanborn, Cecil McBee, John Scofield, Gary Peacock, Freddie Hubbard, Warne Marsh, Stephane Grappelli, Al Foster, Joe Henderson, Billy Hart, Gerry Mulligan, Dizzy Gillespie, Tânia Maria, Roy Haynes e muitos mais.

Em 1992, Petrucciani fez uma aplaudida excursão pela Europa, tocando em dueto com o pai, Antoine, em uma turnê que recebeu o sugestivo nome de “Tal pai, tal filho”. Dois anos depois, receberia mais uma importante homenagem: o título de Cavaleiro da Legião de Honra, uma das mais prestigiosas comendas concedidas pelo governo da França.

Em novembro de 1997, durante uma temporada japonesa no clube Blue Note, Petrucciani gravou o excepcional álbum ao vivo “Trio in Tokyo”, lançado pelo selo francês Dreyfus. Secundado pelo baterista Steve Gadd e pelo baixista Anthony Jackson, Petruccianni se apresenta em estado de graça. Notável não apenas como intérprete, ele aqui exibe sua não menos brilhante faceta de compositor – dos nove temas, sete são de sua autoria.

A exuberante “Training” foi escolhida para abrir o disco, com seu ritmo pulsante e seu andamento supersônico. Bebop em estado bruto, o tema exige de Gadd e Jackson coesão e agilidade. O dedilhado de Michel é rico, generoso, feérico, opulento, desafiador. É um pianista expansivo e, ao contrário de craques que se notabilizaram pelo uso econômico do teclado, como John Bunch, ele é capaz de percorrer as 88 teclas com furiosa competência e um sentido harmônico ímpar. Jackson usa o contrabaixo elétrico durante todo o concerto, mas consegue extrair do seu instrumento uma sonoridade ressonante e amadeirada, à Steve Swallow, assemelhada à de um contrabaixo acústico.

Acompanhado por dois músicos extremamente habilidosos, o pianista passeia pelos cânones do post-bop em “September Second”, com uma abordagem contemporânea, mas longe de ser hermética. Gadd é um dínamo, incapaz de perder o tempo exato da batida e seu trabalho com os pratos beira o imponderável. Jackson, outro instrumentista de grande talento, faz uma marcação impecável, deixando Petrucciani livre para acelerar os andamentos, digitar com a voracidade de um monstro antediluviano e deixar perplexo o mais cético dos jazzófilos.

A balada “Home” é delicada e melodiosa, com um discreto acento bossanovístico que remete a imagens lúdicas e paradisíacas, com uma parte final surpreendente, na qual o trio vai acelerando até atingir uma espécie de êxtase melódico, retornando novamente ao clima ameno do início. Em “Little Piece in C for U” Michel e seus homens excursionam pela nem sempre confortável zona do jazz de vanguarda, construindo um vertiginoso caleidoscópio harmônico, intrincado e cheio de dissonâncias, com atuações primorosas de Gadd e Jackson, que se mostra um virtuose do contrabaixo elétrico, na melhor tradição de Jaco Pastorius.

Mais uma balada, “Love Letter” tem uma atmosfera quase impressionista, com elementos da música erudita que fazem lembrar as composições de Bill Evans. Sua melodia é sóbria e a abordagem de Petrucciani é comedida e muito elegante. Destaque para a hipnótica linha de baixo construída por Jackson e a sonoridade amadeirada que ele extrai do seu instrumento – pode-se jurar que ele está tocando um contrabaixo acústico e usando o arco.

A inebriante “Cantabille” começa em ritmo lento e vai acelerando até o final apoteótico, com Michel repetindo a mesma nota, de forma cada vez mais rápida e alucinada Jackson e Gadd, impávidos, seguem as imponentes alegorias sonoras do líder com vigor e muita potência. Rápidas citações a “Blues Skies” e “Without a Song”, tinturas de soul e funk e uma batida infecciosa acrescentam histamina ao tema.

“Colors” é uma balada de harmonia intrincada e melodia dissonante, que segue em um crescendo, como se fosse uma espiral de harmonias, com direito a citações a “But Not for Me” e “But Beautiful”. A originalidade da abordagem de Petrucciani e o lirismo de seu dedilhado criam uma atmosfera de intimidade com o ouvinte. Seu toque é sempre incisivo e o discreto acento de bossa nova que ele imprime ao tema provoca um belo contraste entre as passagens mais reflexivas e as mais exuberantes.

A versão devastadora de “So What” é a síntese do gênio criativo de Petrucciani. Com clareza, inventividade e fluência, ele recria a composição de Miles Davis, tornando-a algo novo e completamente surpreendente. A permanente tensão entre graves e agudos, a investigação de novas possibilidades rítmico-harmônicas, a interação telepática entre piano, contrabaixo e bateria, as trocas inesperadas de andamento, os diálogos sempre inflamados, enfim, são muitos os predicados desta que é, sem dúvida, uma das faixas mais empolgantes do disco.

Um dos mais empolgantes e conhecidos temas do jazz, “Take de A Train”, foi o escolhido para fechar o disco. A composição de Billy Strayhorn ganha um novo fôlego, graças à interpretação poderosa do trio. Com uma abordagem moderna e sem medo de cometer algumas “heresias” (pelo menos do ponto de vista dos puristas mais renhidos), Petrucciani injeta uma dose cavalar de adrenalina. Gadd é outro músico ousado e sua batida incorpora elementos de samba, sem que isso soe pitoresco ou inverossímil. Um disco formidável e uma excelente porta de entrada para o universo mágico e encantador desse pianista magistral.

1998 marca o lançamento do estupendo “Both Worlds”, novamente para a Dreyfus Records, no qual o Michel lidera um sexteto multinacional integrado pelos norte-americanos Anthony Jackson (contrabaixo), Steve Gadd (bateria) e Bob Brookmeyer (trombone), e pelos italianos Flavio Boltro (trompete) e Stefano di Battista (saxes alto e soprano). Todas as composições são de autoria de Petrucciani, com arranjos de Brookmeyer.

Trabalhando em um ritmo frenético, o pianista cumpriu uma exaustiva temporada de mais de 140 concertos naquele ano. É possível que essa rotina tão estafante tenha contribuído para precipitar as coisas, mas o certo é que no dia 06 de janeiro de 1999, Michel Petrucciani faleceu, em decorrência de uma infecção pulmonar, em Nova Iorque. Seu corpo foi enterrado no cemitério Le Père Lachaise, em Paris, onde estão os restos mortais de gigantes da cultura ocidental como os escritores Marcel Proust e Oscar Wilde, o compositor Frédéric Chopin e o vocalista da banda de rock The Doors, Jim Morrison.

Ao saber da prematura morte de Petrucciani, o então presidente da França, Jacques Chirac, seu fã declarado, emitiu uma nota de pesar na qual afirma que o pianista “renovou a linguagem jazzística, entregando-se de corpo e alma à sua arte, com paixão, coragem e genialidade musical. Ele foi um exemplo para todos nós”.


Para o estudioso Sylvio Lago, Petrucciani era um pianista de “aptidões múltiplas, com o frágil corpo capaz de uma vigorosa impulsão rítmica e amplitude dinâmica”. Ainda de acordo com o pesquisador, Michel era capaz de extrair do piano grande força sonora e aproveitava “todos os recursos polifônicos do instrumento, das graduações e intensificações das sonoridades ao fraseado límpido e coerente em suas linhas melódicas e chorus da improvisação”.

O desassombrado Petrucciani jamais deixou que as dificuldades o abatessem. Sua filosofia de vida era simples e direta: “Tudo o que eu quero na vida é me divertir com o que faço. Jamais deixarei que alguém ou alguma coisa me impeça de fazer as coisas que eu tenho vontade de fazer”. Lamentavelmente, o pianista morreu sem ter conseguido realizar o seu grande sonho: montar uma escola de jazz em Paris, nos moldes das norte-americanas Berklee e Juilliard.

É preciso romper barreiras para alcançar o sucesso


Publicado em março 15, 2012 por alternativarevista.

Acreditar em si, superar desafios, persistir nos objetivos. Independente dos outros, o verdadeiro sucesso está na forma de como você se sente diante de suas realizações. Se a sensação for de dever cumprido, pode ter certeza de que você chegou lá!*Por Daniella AlmeidaUma das principais palavras que poderiam definir sucesso seria realização. E são nos eixos pessoal e profissional que a sociedade se dedica diariamente para a construção da vida, com o objetivo de atingir esta meta.[Image] Leandra Migotto CertezaNos detalhes dessa estrutura muita gente já se reconhece como bem-sucedida. Leandra Migotto Certeza é uma destas pessoas. Ela tem 96 cm de altura e deficiência física, em decorrência da osteogenesis imperfecta, doença conhecida como ossos de vidro ou ossos de cristal.Ainda na barriga da mãe, teve várias fraturas por causa da fragilidade óssea e pela deficiência de colágeno. Quando criança, em virtude da doença ser desconhecida, os médicos afirmavam que a menina não sobreviveria. Mas ela lutou pela vida e venceu. Apesar de só conseguir dar os primeiros passos aos 5 anos e, dois anos depois, parar repentinamente já foi uma vitória.Nesse tempo, a pequena Leandra estudou em um colégio onde ela e outras crianças com necessidades especiais entravam pela porta dos fundos, ficavam em um pátio escondidas e eram separadas dos outros alunos por uma grade de ferro.“Confesso que não sei explicar o motivo racional pelo qual nasci com tanta força de vontade de viver, ser feliz e buscar o meu sucesso, mesmo tendo consciência da minha deficiência e de todas as limitações externas e internas, principalmente, da diferença estética, que sempre me trouxe dificuldade de lidar com a discriminação das pessoas”, avalia Leandra.Segundo ela, foi na adolescência que a situação ficou ainda mais complicada. O que mais a marcou, neste período, foi quando os meninos da sua idade viravam o rosto para não beijá-la. A jornalista também se recorda de que teve que ouvir de uma ginecologista, com um livro de anatomia aberto, que a medicina não poderia fazer nada pelo seu corpo. “É claro que ainda passo (agora até mais) por momentos de crise, dor, desânimo, tristeza e até um pouco de desespero. Mas não sei explicar o porquê nunca me entreguei completamente e sempre busquei enfrentar as barreiras, superando os meus próprios preconceitos, além de gostar de viver e aproveitar as coisas mais simples da vida.”Não abrindo mão de ser feliz, Leandra se obstinou a conquistar seus objetivos, independente do que os outros falassem. E o sucesso foi certo: aos 14 anos voltou a andar com ajuda de muletas e até aprendeu a nadar, ganhando medalhas com o esporte; viajou sozinha para o Peru e carregou muita mochila nas viagens que fez. Formada em jornalismo, conquistou a editoria de duas importantes revistas especializadas em inclusão social para portadores com deficiência: ‘Ciranda da Inclusão’ e ‘Revista Sentidos’. Seu trabalho nas duas publicações lhe rendeu dois prêmios, sendo um na Colômbia, no Concurso de Periodismo y Comunicación Sociedad para Todos, da Associación Capital Humano; e outro no Peru, no Sexto Congresso Internacional Prazeres Dês-Organizados Corpos, Direitos e Culturas em Transformação.Hoje é consultora e palestrante em empresas e escolas, é ativista em Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência, coordena um projeto sobre a sexualidade das pessoas com deficiência e já viveu lindas histórias de amor. “Continuar vivendo em meio ao desafio trágico e gostoso de todos os dias é o que significa o verdadeiro sucesso para mim”, afirma Leandra.

segunda-feira

Dia Internacional da Osteogénese Imperfeita 2012

Dia 6 de maio a Associação Portuguesa de Osteogénese Imperfeita (APOI) vai assinalar em Portugal, pela segunda vez, o Dia Internacional da Osteogénese Imperfeita, sob o lema «Celebra a Vida». A Osteogénese Imperfeita (OI), também conhecida por «doença dos ossos de vidro», é uma doença rara, que se caracteriza pela fractura frequente de ossos, quer de forma espontânea, quer por traumatismos mínimos.


Actividades
A campanha que a APOI planeia desenvolver em 2012 para assinalar o Dia Internacional da Osteogénese Imperfeita inclui a realização de diversas actividades, nomeadamente a edição do livro «Osteogénese Imperfeita – um livro de cristal», a realização, em Lisboa, de um mega Pic-Nic de celebração do Dia da Mãe intitulado: «Mães de vidro, MÃES INQUEBRÁVEIS», e a participação na marcha em defesa de um Hospital Pediátrico em Lisboa, em colaboração com a Comissão de Defesa do novo Hospital Pediátrico de Lisboa e a Liga dos Amigos do Hospital Dona Estefânia.


Objetivos da campanha:
- incentivar e facilitar a integração social dos doentes e famílias, melhorando a sua qualidade de vida o estigma social aos portadores de OI;
- fornecer informação pedagógica que facilite a autonomia e a auto-estima;
- envolver os próprios doentes e as famílias nos auto-cuidados tornando-os parceiros activos na promoção da saúde deste grupo de doentes;




Mais informações:
Associação Portuguesa de Osteogénese Imperfeita (APOI)
a.p.osteogeneseimperfeita@gmail.com
Pode consultar o site da APOI AQUI .

http://www.wishboneday.com
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